Por: Fabiana Ratti, psicanalista lacaniana
Suíte Francesa (2015) é um drama romântico
ambientado na Segunda Guerra Mundial, filmado na França e na Bélgica. O
interessante deste drama é que fica muito clara a ação do sujeito individual no
meio da massa. Também podemos observar como o ser humano é capaz de brigar por
questões mínimas, por “narcisismos das pequenas diferenças”, como diz Freud.
Muitos filmes de guerra retratam esse ponto da
participação individual. O sujeito é um simples executor de ordens de pessoas
acima, impotente no meio em que vive e nada tem a fazer, ou poderia ter feito
de forma diferente, e quem sabe, mudado a história?
Quando ouvimos falar de estórias como a do Sir
Nicholas Winton (1), corretor do mercado financeiro que providenciou 8 trens
para salvar crianças judias da cidade de Praga durante a Segunda Guerra
Mundial; ou quando vemos A lista de
Schindler de Spielberg, fica mais evidente a participação efetiva que um
sujeito tem em sua sociedade.
Em Suite
Francesa, a situação é patética e por essa razão fica quase cômica, se não
fosse trágica. Com a ocupação nazista, numa pequena cidade da Bélgica, as
pessoas vivem em situação de tensão e vigília. A escassez de comida aumenta e o
clima de guerra vai tomando conta da população, soldados alemães estão por toda
a cidade.
Para levar comida para os filhos e a esposa, um
colono rouba umas galinhas. O patrão não liga, sabe que a situação está difícil
e fala para a esposa sossegar, deixar, não ficar controlando. A esposa não
arreda pé e conta uma mentira ao marido dizendo que o ladrão de galinhas tinha a
ofendido pessoalmente. Então o marido resolve protege-la. Não deixa barato,
defende sua honra e presta queixa ao general.
Na hora de fugir, o ladrão de galinhas mata um
soldado alemão. A cidade entre em guerra. Camburões e carros de guerra invadem
a cidade. Revistam todas as casa com violência e munidos de todas as armas
possíveis. As consequências são nefastas...
Fica assim evidente a participação do sujeito no
meio da massa. Uma frase, uma mentira, um situação narcísica, pode trazer muita
destruição a todos.
Por outro lado, o filme também mostra a
participação oposta. A mocinha, interpretada por Michelle Willians, que a
princípio parece inerte e bobinha, também tem uma brilhante participação
individual e também prova que é possível se destacar na multidão e deixar sua
participação especial.
De uma forma bem sensível, o filme mostra a
responsabilidade das ações e das escolhas do sujeito, inclusive, na escolha do
amor.
(1)
http://oglobo.globo.com/sociedade/historia/morre-aos-106-anos-ingles-que-salvou-669-criancas-judias-na-segunda-guerra-16624415