Por: Fabiana Ratti, psicanalista
Babel, filme de 2006, do diretor Alejandro
González Iñárritu, é uma montagem de quatro histórias que acontecem paralelas e
simultâneas. O tempo vai e volta na narrativa num curto período, os espaços
físicos são diferentes e apontam um mundo globalizado onde as culturas se
comunicam.
Existem alguns filmes dessa
natureza que nos fazem pensar o quanto um ato no Marrocos pode afetar alguém no
México, ou no Japão, ou nos EUA. Ou seja, estamos, de alguma forma entrelaçados
e os atos têm efeitos e repercussões que vão para além do alcance de nossos
olhos.
Um outro filme recente dessa
natureza é o 360, de 2012, do premiado diretor brasileiro Fernando
Meirelles. 360 roda o mundo com algumas histórias sobre a vida do ser humano
comum e aponta as conseqüências que um ato pode vir a ter.
Assisti aos dois filmes num espaço muito curto de tempo, e o
que me saltou aos olhos em relação aos dois foi o quanto eles mostram a
irresponsabilidade e a displicência com que os seres humanos agem. Isso aponta
a máxima de Freud, quando este diz que os seres humanos são dominados pelo
aparelho emocional e não pelo racional. O inconsciente se impõe, e o indivíduo
pode abrir mão, em um ato, de sua integridade física e/ou psíquica.
Em Babel, podemos dizer que a ligação entre as histórias se
dá por uma arma. Até quando vamos deixar o comércio de armas correr tão solto? Então,
na primeira história vemos um pai acirrar a competição entre os filhos e, sem
uma orientação maior, irresponsavelmente, deixa-os com uma arma para irem
cuidar das cabras. Logicamente, temos de pensar, qual seria a cultura e grau de
instrução que aquele pai teria em pleno deserto do Marrocos? Não sabemos. Podemos
entrar numa discussão mais sócio-política, mas, não o faremos aqui, aqui fica a
discussão psíquica de que o pai agiu por impulso, não raciocinou os efeitos e
conseqüências, provavelmente, a primeira vez que ele ganhou uma arma, também
tenha sido dessa maneira. Assim, a irresponsabilidade vai sendo transmitida.
Pode nunca ter acontecido nada de grave, mas um dia acontece. (como na tragédia
que assolou Santa Maria, no RS, nessa semana, na boate Kiss matando mais de 230
pessoas). No filme aconteceu. Dessa maneira, continua o filme apontando uma
seqüência de atos impensados, alguns que não levam a nada e outros que não saem
tão ilesos, o que poderia causar sérios danos a todos em volta. O filme é
interessante e nos deixa presos na ação, o que peca um pouco é a questão de que
todos são incompetentes e dominados pelo inconsciente, menos os americanos, o
que não é bem assim. Se relevarmos essa parte, o filme vale a pena!
360 é mais romanceado. É menos intenso e portanto, ficamos
menos aflitos ao assistir. Porém, mostra esse mesmo efeito. Uma seqüência de
atos que, sendo impensados, pode destruir uma relação amorosa, pode fazer uma
pessoa ter de mudar de país, de perspectiva de vida, pode fazer um pai ficar
sem uma filha. Pode nada acontecer, mas Meirelles aponta o quanto podemos
passar perto do perigo, sem o saber. Do meu ponto de vista de analista, se
houver mais prudência e ‘preguiça de pensamento’, podemos não correr riscos tão
altos, diminuindo os ‘acidentes’ e tragédias que acontecem na vida.
Fernando Meirelles também aponta, com categoria, que todo
ser humano tem a capacidade de se esforçar e não cair na tentação. Ou seja, é
possível um diálogo entre o racional e o emocional, não é preciso um dominar e
se sobressair a ponto de perdermos a vida. Sendo assim, por que o ser humano se
arrisca tanto?
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