Nessas férias,
fizemos um festival Hitchcock em casa... Assistimos o clássico Janela Indiscreta (1954), filme em que James
Stewart, de sua janela, suspeita da ocorrência de um crime; enquanto se
recupera de uma fratura na perna, investiga os vizinhos suspeitos. Em seguida,
assistimos a Um corpo que cai (1958)
e novamente Stewart, com sua inteligência Hitchcockiana, desvenda o mistério de
Madeleine que parecia ser abduzida por Carlota, uma parente já falecida. Então,
foi a vez de O Homem que sabia demais
(1956) e novamente o mestre do suspense esbanja tensão e mistério personificado
na excelente atuação de James Stewart.
Uma ideia de
que é possível matar uma pessoa apenas pelo poder de matar, de passar pela
sensação, de ver como é. E, testar a sensação de, ainda por cima, conseguir recepcionar
as pessoas, agir como se nada tivesse acontecido.
Estavam lá amigos
da Universidade, Professores, pais; num clima de amizade e descontração. Com o
tempo, o clima foi ficando pesado, tenso. Começaram a sentir falta do morto que
deveria estar presente.
Instalou-se
uma tensão entre os dois assassinos. O que liderara muito seguro de si e
gozando daquela situação ímpar. E o cúmplice, a todo momento se denunciando, já
visivelmente arrependido de seus atos, entregando-se e incluindo que há um
custo a ser pago pelos atos.
Entre um
assunto e outro, rolou uma discussão de que havia pessoas de primeiro escalão e
de segundo escalão. Pessoas superiores e outras inferiores. Pessoas com mais
cultura que mereciam viver e outras sem tanta cultura que não mereciam tanto. E
as superiores poderiam tirar a vida das inferiores.
Hitchcock em 1948,
com muita elegância, discute o que a sociedade leva anos para admitir.
Todo ser humano
tem um inconsciente que tem suas fragilidades, faltas e inseguranças. Falar
mal
do outro, destruir o outro com palavras ou atos é uma forma de se afirmar. De sentir-se
forte, superior, sem precisar produzir ou construir algo, é só destruir e
sentir-se o mais forte. Esse efeito psíquico acontece individualmente entre
pessoas, familiares, amores; bem como em instituições e sociedades, vide a
política brasileira. Esse jogo psicológico que Hitchcock captura com a
excelente atuação novamente de James Stewart que, como professor Universitário,
também critica as disputas egóicas que rolam nas Academias.Em inglês, o filme chama-se Rope e faz referência à corda usada para o estrangulamento. O som nos lembra Hope, sempre há a esperança de que as pessoas não precisem destruir o outro para se promoverem, que elas possam crescer por elas mesmas...Hitchcock sempre genial!
Por: Fabiana Ratti, psicanalista
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