quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Festim Diabólico – Hitchcock




Nessas férias, fizemos um festival Hitchcock em casa... Assistimos o clássico Janela Indiscreta (1954), filme em que James Stewart, de sua janela, suspeita da ocorrência de um crime; enquanto se recupera de uma fratura na perna, investiga os vizinhos suspeitos. Em seguida, assistimos a Um corpo que cai (1958) e novamente Stewart, com sua inteligência Hitchcockiana, desvenda o mistério de Madeleine que parecia ser abduzida por Carlota, uma parente já falecida. Então, foi a vez de O Homem que sabia demais (1956) e novamente o mestre do suspense esbanja tensão e mistério personificado na excelente atuação de James Stewart.

Encerramos o festival, pelo menos por essas férias, com o maravilhoso Festim Diabólico (1948). Filme feito anteriormente a esses três, cujo mistério não recae na busca meticulosa pelo assassino, mas por um suspense criminal e psicológico filmado em tempo real numa única tomada de 1hora e 20 minutos. Num apartamento, após estrangular um colega, dois amigos colocam o corpo no baú e fazem um jantar em cima do baú, entre conhecidos do morto que sentem sua falta no jantar. Um jogo diabólico, perverso.

Uma ideia de que é possível matar uma pessoa apenas pelo poder de matar, de passar pela sensação, de ver como é. E, testar a sensação de, ainda por cima, conseguir recepcionar as pessoas, agir como se nada tivesse acontecido.
Estavam lá amigos da Universidade, Professores, pais; num clima de amizade e descontração. Com o tempo, o clima foi ficando pesado, tenso. Começaram a sentir falta do morto que deveria estar presente.   
Instalou-se uma tensão entre os dois assassinos. O que liderara muito seguro de si e gozando daquela situação ímpar. E o cúmplice, a todo momento se denunciando, já visivelmente arrependido de seus atos, entregando-se e incluindo que há um custo a ser pago pelos atos.
Entre um assunto e outro, rolou uma discussão de que havia pessoas de primeiro escalão e de segundo escalão. Pessoas superiores e outras inferiores. Pessoas com mais cultura que mereciam viver e outras sem tanta cultura que não mereciam tanto. E as superiores poderiam tirar a vida das inferiores.
Hitchcock em 1948, com muita elegância, discute o que a sociedade leva anos para admitir.
Todo ser humano tem um inconsciente que tem suas fragilidades, faltas e inseguranças. Falar
mal do outro, destruir o outro com palavras ou atos é uma forma de se afirmar. De sentir-se forte, superior, sem precisar produzir ou construir algo, é só destruir e sentir-se o mais forte. Esse efeito psíquico acontece individualmente entre pessoas, familiares, amores; bem como em instituições e sociedades, vide a política brasileira. Esse jogo psicológico que Hitchcock captura com a excelente atuação novamente de James Stewart que, como professor Universitário, também critica as disputas egóicas que rolam nas Academias.
Em inglês, o filme chama-se Rope e faz referência à corda usada para o estrangulamento. O som nos lembra Hope, sempre há a esperança de que as pessoas não precisem destruir o outro para se promoverem, que elas possam crescer por elas mesmas...Hitchcock sempre genial!  


Por: Fabiana Ratti, psicanalista

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