A Última
Fronteira - The Last Face – (2016) é um drama produzido nos Estados Unidos, dirigido por Sean Penn, escrito por Erin Dignam e protagonizado por Charlize Theron e Javier Bardem. O filme discute a precária condição de vida e de
subsistência que a África passa em situação de revolução civil e política. A
narrativa perpassa a experiência do que aqui no Brasil é chamado de “Médico sem
Fronteiras”, iniciativas de trabalho na área da saúde em parceria com a ONU para
minimizar o sofrimento em acampamentos e cidades que sofrem ataques e estão em
situação limite em todos os âmbitos da vida humana.
Com cenas de violência e miséria, o
filme abre espaço para muitas reflexões, pensaremos em algumas...
A primeira e grande pergunta que se
estabelece no cerne do filme é: o que os profissionais de saúde estão fazendo
ali? Qual a função deles? A pergunta se coloca pois são tantas bombas e tiros
que a morte parece iminente para todos, o trabalho do médico apenas posterga a
morte? É como “secar gelo”, um trabalho que parece não ter fim. Essa
interrogação gera uma crise psicológica em Wren, a protagonista, e ela, na
função de médica, deixa a mesa de cirurgia, montada de forma bastante precária,
e começa a dar cuidados paliativos a uma senhora que perdeu as pernas, está
para morrer e quer ver o filho.
A segunda grande questão é: numa
situação limite, o que deve prevalecer, a saúde mental ou a psíquica? Wren tem
um ataque após passar por uma sequência de situações traumáticas: é obrigada a
sair do carro porque ladrões roubam o veículo, a equipe é obrigada a fazer a
travessia a pé e passar a noite no meio da floresta, é necessário fazer uma
Cesária de urgência no caminho e, entre outras situações, Wren vê uma pilha de
crianças mortas após enfrentar um menino apontando a metralhadora para a equipe.
Frente a tanta violência, Wren explode
em uma cena e fica evidente que para estar nessa situação é preciso incluir a
saúde psíquica. Além disso, o filme interroga, será que essa população precisa “apenas”
de alimento, cuidados básicos, saneamento, atendimento médico ou precisa também
de sonho? Como é passar uma vida crua, apenas sobrevivendo, sem a condição maior
que diferencia o ser humano dos outros animais?
Neste mesmo viés, o filme enfatiza
que para o profissional de saúde estar ali é porque ele é idealista, precisa
ter essa vida como seu sonho, pois a privacidade dele é engolfada pelo trabalho,
além de, não ser um trabalho, digamos, simples. Como casar e ter filhos tendo
uma vida aventureira como essa? Como ter a mínima privacidade de um romance?
Miguel, o protagonista, é tachado de mulherengo por ter tido alguns
relacionamentos em missão. Como não tê-los? Deveria ele abrir mão total de sua
vida afetiva e sexual?
Junto com todos esses perigos iminentes,
o filme ainda levanta o risco com o HIV. O sangue toma conta do cenário, corpos
abertos e expostos, cirurgias feitas sem luvas ou proteções, bolsas de sangue
contaminadas, sexualidade sem proteção.
Por: Fabiana Ratti, psicanalista
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