O filme Okja, dirigido por Bong Joon Ho e recentemente lançado na Netflix (28/6/2017), prova que é possível criar uma relação de empatia com criaturas quase monstruosas, as quais não inspirariam nenhum carinho na maior parte das pessoas à primeria vista.
Trata-se da história de uma super porca que mais parece
um hipopótamo criada geneticamente em um laboratório nos EUA e que vive nas
montanhas da Coréia do Sul com uma garota, Mija. O filme começa mostrando a
rotina das duas na floresta, seus códigos de comunicação e até um episódio em
que Okja salva Mija de cair de um penhasco se jogando em seu lugar. Há muito
afeto na relação entre elas e uma calma de quem vive junto, em família. Mas, 10
anos depois, a empresa americana que havia incubido mija de criar Okja volta à
Coréia do Sul para levar a super porca de volta à Nova York e fazer o lançamento
de sua carne no mercado. E o filme segue mostrando esse conflito entre Mija,
que quer salvar sua amiga do abatedouro, a empresa que investiu no animal e
quer lucrar com a comercialização dos super porcos e um grupo de ativistas pró
animais que quer expor a crueldade da indústria da carne.
Mas engana-se quem acha que o filme é exclusivamente uma
apologia ao vegetarianismo e que o faz dando um nome ao animal e envolvendo o
telespectador em uma relação de carinho com Okja. Paralelamente a isso há uma
ironização bem humorada dos ativistas pró animais, pouco congruentes em suas
atitudes e quase inocentes muitas vezes, e ainda, a própria Mija não é
vegetariana. Ela e seu avô consomem outros animais e toda a aventura do filme
se passa a partir da determinação de Mija em salvar Okja, não em acabar com a
indústria da carne.
Assim, de forma extremamente bonita, bem humorada e
respeitosa, o filme consegue nos fazer pensar sobre questões que caíram no esquecimento
do nosso dia a dia. Contradições como porque temos tanta empatia por cachorros
e gatos enquanto comemos um filé de vaca, como ouvimos discursos de paz
proferidos por grupos que buscam essa paz através de violência, como apostamos
na veracidade de políticas eco-friendly e “orgânicas” sem de fato sabermos quanto
correspondem à verdade do produto que consumimos e ainda, como deixamos de
questionar as práticas de reprodução e abate dos animais cuja carne abastece os
supermercados. Tudo isso através de uma trama emocionante e delicada, muita
ação e paisagens belíssimas.
Por: Ligia Ungaretti Jesus, Psicanalista.
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