Nesta passagem
de ano assistimos em casa Edward mãos de
tesoura - filme de 1990 – clássico de
Tim Burton com os excelentes atores Johnny Depp, Winoma Ryder, Dianne Wiest. Surrealismo
crítico da sociedade. A começar pela vendedora de Avon que batia de porta em
porta, um clássico dos anos 1980/90. Por um lado, uma chata que ficava
atrapalhando, por outro, temos o crescimento de empresas como Avon e Natura que
mostram a eficiência de sua estratégia de marketing.
Em seguida,
Tim Burton faz uma crítica à sociedade do século XX em que os maridos saiam
para trabalhar e as mulheres ficavam em casa de forma fútil: fofocando, pensando
na estética, paquerando os moços que estavam trabalhando.
E nisto, a batalhadora
vendedora de Avon toma uma atitude de coragem e vai até o castelo mal-assombrado
da vila de moradores. Tim Burton sempre toca em um tópico muito caro aos
analistas: o quanto a diferença pode dizer muito mais sobre um potencial do
sujeito, do que uma aberração, como a sociedade costuma ver.
Em Psicologia das massas e análise do ego (1921),
Freud explica que há uma tendência no ser humano em rebaixar a inteligência e
se juntar às massas. Isso faz as pessoas viverem muito mais na identificação –
no mesmo, no narcisismo - do que na irreverência, na diferença e singularidade.
Como é difícil para o ser humano ‘sair da caixa’. Ver por outro ângulo, criar,
sair da mesmice. O que é compactuado pela sociedade toma um efeito em cadeia e
em pouco tempo, todos estão pensando igual.
A vendedora de
Avon rompeu as barreiras e limites sociais e trouxe Edward para casa. No que
foi muito bem aceito pelo marido e filho. A fofoca a respeito do novo visitante
logo se espalhou e as vizinhas se convidaram para fazer um churrasco e conhece-lo.
O que poderia
ser uma aberração: suas mãos de tesoura – passou a ser um grande diferencial
para a sociedade. Edward passou a podar os arbustos de forma criativa, tosar o
pelo dos bichanos na redondeza e fazer cortes de cabelos altamente modernos.
Um saber-fazer
com sua diferença sem precedentes! O moderno Frankenstein - havia sido criado por
um senhor que o fabricou e lhe deu a vida – era sensível, criativo, gentil e
empreendedor. Tinha até visão de negócio de como cortar os cabelos e vender os
produtos de sua atual landlady.
Mas, Tim
Burton, sempre crítico com a sociedade, denuncia: onde estão as verdadeiras
aberrações? Onde está o que estraga a sociedade? O diferente ou aquele que vê a
diferença e acusa o outro de não estar integrado na sociedade?
O filme á
altamente atual! O quanto a sociedade está tentando negar e apagar as
diferenças com técnicas e remédios que deixe toda a sociedade apaziguada,
inerte, igual, narcísica. E assim, os diferentes – todos - precisam se
recolher, se restringir, sem poder utilizar seu diferencial porque temos de ser
uma massa padronizada e unificada. E ninguém entende de onde vem tanta
ansiedade e depressão.
Por: Fabiana
Ratti – psicanalista
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