William Bouguerreau (1825-1905) The Oreads (1902)
Neste ano de
2020 faremos um grupo de estudos sobre perversão de sexta feira às 14hs e vou
esclarecer aqui algumas razões de porque estudar as perversões:
1 – Ao
estudar as perversões, estudamos as outras estruturas: neurose e psicose. Das
estruturas propostas por Freud: neurose, psicose e perversão; a perversão é a
menos estudada, e ao fazer isso, sempre fazemos referência à neurose, a qual
Freud mais se dedicou e à psicose, a qual Lacan trouxe grandes avanços.
2 – O
segundo motivo para estudar as perversões é que muitos ainda colocam o perverso
somente como aquele absoluto carrasco que açoita seu parceiro com chicote na
cama. O restante não é perverso. Isso é o mesmo que dizer que a histérica
deveria ser ainda hj aquela que em 1900 fazia conversão somática e ficava
paralisada na metade do corpo, ou cega, ou falava em outra língua. Existem
vários mitos em relação ao perverso. E isso se dá por falta de estudo. Por
falta de avanço teórico e discussão clínica. Frases como: “o perverso não
procura atendimento”. “não existem mulheres perversas.” Ou mesmo a concepção de
que eles seriam somente este carrasco estereotipado. Todos esses são mitos por
falta de estudo. Os sintomas mudam conforme o passar do tempo, temos de
acompanhar a perversão.
3 – O terceiro
motivo seria porque podemos dizer que existe a estrutura perversa, mas hj em
dia discute-se muito: o empuxo à perversão, o perverso polimorfo, acting out
perverso, a posição perversa, o modo de gozo perverso. Ou seja, a perversão não
está lá excluída, longe e distante. Ela está no dia a dia, na clínica, na
política, nas relações sociais, mesmo que o sujeito não tenha uma estrutura
perversa, suas faces e nuances estão na sociedade e é preciso estudar para
manejá-la.
4 – O quarto
motivo é que estamos construindo uma sociedade cada vez mais perversa. Então,
além da clínica, precisamos articular com a sociedade, com a política. E a
lógica da perversão é o desmentido, a negação: eu vi, mas não vi a lei. Eu vi,
mas vamos brincar que não vi. Isso acontece direto em nossa sociedade atual e precisamos
discutir, nos posicionar frente a isso.
Vamos
estudar... venham participar... Assim como Freud enfrentou o saber médico e
construiu a metodologia da psicanálise a partir das neuróticas; assim como
Lacan trouxe grandes contribuições para a psicose, não deixando apenas para o
ramo da psiquiatria, apresentando uma nova forma de atuação clínica; agora é o
momento de não recuarmos ante à perversão e elaborarmos novos manejos
compatíveis com o século XXI, usufruindo constructos vindos de Freud e Lacan
sobre esse saber.
Por: Fabiana Ratti, psicanalista.