PARA
ALÉM DO BELO E DO FEIO – A MORTE DA ARTE NO BRASIL
Milton
Simon Pires
Tom Jobim e Chico Buarque de Holanda em
1968
Uma das frases
que mais encanta os brasileiros é “gosto não se discute”.
Parece que toda vez que alguém a pronuncia faz na verdade uma profissão de fé.
Demonstra, não importa como, que se diferencia de uma verdadeira “legião de
fanáticos”: pessoas retrógradas e de “direita” que sustentam que a música, a pintura, o cinema e
a literatura (só para citar alguns
exemplos) tem regras próprias cujo domínio exige por parte do artista uma
atividade disciplinada e, em certa aspecto,
racional. Proclama-se orgulhosamente que a chamada “inspiração” não tem
regras, coisa que me faz recordar gente que, substituindo turismo por estudo,
julga-se grande conhecedora de países estrangeiros. É cômico (para não
dizer triste) observar aqueles
que,transformando ateliers e estúdios de
gravação em consultórios de psicanálise, misturam os conceitos de beleza e democracia de uma
forma tão desonesta.
O objetivo deste
pequeno texto é uma ligeira reflexão sob o conceito de beleza e da própria arte
no Brasil dos dias de hoje. Antes de começar; algumas rápidas observações.
Estética é um campo próprio da filosofia. Seu domínio está muito além da capacidade
de alguém que aborda o assunto como amador porque encontrou na Medicina uma
profissão e na Filosofia um hobby. Decorre daí a necessidade de um aviso – que
ninguém perca tempo achando que vai aqui uma definição clara daquilo que é ou
não é “arte verdadeira”. O enfoque é muito mais modesto. Trata-se de apresentar
a confusão existente entre os conceitos de beleza e justiça e sustentar que,
uma vez proprietária do discurso que diz o que é a verdade na História, uma
“elite cultural” passou também a definir o que é ou não a verdadeira Arte. Foi
na década de 1960 que isto ocorreu. Na filosofia imperava a desconstrução.
Derrida, Deleuze, Foucault, entre outros questionando a própria linguagem,
reduziram aquilo que havia de racional na comunicação a uma simples manifestação de uma verdade maior
– uma verdade simbólica incapaz de ser alcançada tanto pelo homem comum quanto
pelo intelectual “não engajado”. Só era
considerada arte aquela manifestação capaz de promover “transformação social”.
Foi dessa linha de pensamento que surgiram as condições necessárias para
que Sabiá, em 1968 fosse vaiada
por uma plateia que preferiu um hino maoísta, Para não dizer que não falei
de Flores, como vencedor do Terceiro Festival Internacional da Canção. Esse
foi, na minha opinião, um momento
crucial na história da arte brasileira. Ao vaiar a obra-prima de Tom Jobim, o
público brasileiro fazia uma profecia – dali em diante poderia se esperar de
tudo: desde Valesca Popozuda até o Bonde
do Tigrão abriu-se a lata de lixo da MPB. Ao mesmo tempo agonizavam o cinema, o
teatro e as artes plásticas. A geração de 1968 conseguiu acabar com toda
necessidade de recolhimento e do esforço de um verdadeiro artista quando
pretende alcançar o belo e desde aquela época até hoje o que se assiste num
país com a riqueza cultural do Brasil é um festival de obscenidades e uma
mediocridade incrível que prima por chocar e agredir. Essa “nova geração”,
sendo incapaz de saber o que é o belo, define de forma magistral o que é o
feio. Ex-prostitutas, assaltantes e traficantes lotam estádios inteiros com o
charme de pertencerem “a comunidade”, “ao mundo real”, e de cantarem e atuarem
“sem preconceitos” porque são “gente do povo” - como se isso fosse
pré-requisito mínimo para “ser artista”. Cantam, não as ruas, mas o lixo delas
nas grandes cidades porque fazem a apologia da maconha, do crack e da iniciação
sexual precoce da mulher brasileira.
Nossa literatura
toda prima pela pornografia e desabafos de escritoras que fracassaram no
casamento e na criação dos filhos. Nossos “grandes escritores” são uma vergonha
num país que deu ao mundo gente como Machado de Assis, Érico Veríssimo e Mário
Quintana, além de pensadores como Gilberto Freire ou Mário Ferreira dos Santos.
Seu único dado de currículo é
literalmente terem sobrevivido ao
uso fanático de drogas e as tais “experiências místicas” dos anos 60. Nossos artistas plásticos flertam com a
esquizofrenia a ponto de, ao entrarmos em uma exposição, não sabermos o que é a “obra” e o que
pertence a parte do ambiente onde não passou o serviço de limpeza. Na mesma
linha, o cinema nacional leva as telas a vida de uma prostituta viciada em
cocaína como alguém que “venceu na vida”.
Tudo lixo...tudo
mentira..e pior financiado por um Governo Federal corrupto que insiste em promover
esse tipo de gente sempre, é claro, roubando tudo que pode, inaugurando todo tipo de obra com cantoras
nordestinas de minissaias tão curtas
quanto suas ideias e bobalhões com cabelo moicano cheio de gel cantando com
sotaque de Ribeirão Preto.
Encerro aqui
meus amigos. Que vergonha ser brasileiro nessa hora! Nietzsche achava que
deveríamos buscar uma vida além do bem e do mal. Ele jamais conseguiu e morreu
louco por causa disso mas o Brasil alcançou algo impressionante – uma arte além
do belo e do feio, uma imundície tão
grande que não representa nada mais do que a morte da própria arte.
Porto Alegre, 25
de janeiro de 2013
Milton Pires
Médico
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