Por: Fabiana Ratti
‘Tão subtamente, tão inopinadamente. Era isso. Não via continuação. Sempre vivi em dois mundos ao mesmo tempo. Acreditava na harmonia entre eles. Era uma ilusão. Só me resta o outro, o imaginário. Mas este não me basta para viver, o mundo imaginário. Mesmo que eu seja esperado nele.’
Milan Kundera, escritor checo, em seu primeiro romance, A Brincadeira, escreve, de forma poética, em algumas passagens do livro, a divisão do sujeito. A divisão entre o mundo imaginário, o mundo dos sonhos... e o mundo que se apresenta e que é necessário lidar... O mundo da brincadeira, da piada... e o mundo em que o suj precisa responder por seus atos... Esses mundos se entrelaçam e bailam por entre as expectativas, as necessidades e as intervenções possíveis do ser humano.
‘Percebi com espanto que as coisas concebidas por engano são tão reais quanto as coisas concebidas pela razão e pela necessidade.’
O peso que existe do aparelho psíquico na forma de ver o mundo e conceber o real... ‘Muitas pessoas, depois de terem unido seus corpos, acham que também uniram suas almas e sentem-se automaticamente autorizadas, por essa crença errônea, a se tornarem mais íntimas. Como jamais acreditei na harmonia sincronizada do corpo e da alma, o tom de intimidade deixou-me perplexo e irritado.’ 259
Enganos e desenganos que a realidade provoca mas, que se não tocou a alma do ser, se não houve movimentação do aparelho psíquico, a realidade perde valor e a emoção impera.‘Ah, como gosto de me enganar! Insistir como um maníaco na certeza de que meu caminho é o melhor! Vangloriar-me do poder de minha fé diante de um incrédulo!’ 313
Frases de tamanha sensibilidade e profundo contato com a ‘realidade psíquica’ marcam o romance escrito em 1965 de Milan Kundera, em que retrata quatro personagens, seus amores e desamores, num dos primeiros anos de ocupação socialista no país checo. Formato: Livro
Idioma: PORTUGUES
Edição: 1ª Ano: 1999
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