Dark (2017) é uma série de drama e suspense que
se passa numa vila da Alemanha. Parte do sumiço de 2 crianças e o roteiro gira
em torno de quatro famílias daquela região. É uma entre algumas séries cujos
personagens viajam no tempo. A princípio podemos dizer que é uma réplica do
inconsciente. O aparelho psíquico se movimenta como a série mostra. Ele tem
suas próprias leis e às vezes parece um túnel escuro onde atravessamos do
presente para o passado e para o futuro.
O tempo da série não é como as outras que
marcam algo mais próximo do racional com começo, meio e fim, com uma lógica
temporal que todos acompanham. Não. Não sabemos se estamos no futuro, no
passado ou no presente. E, segundo Freud, essa é a atemporalidade do
inconsciente. Tentamos fazer algumas marcações temporais para nos organizar,
mas o tempo é descontinuo e segue uma lógica do desejo. Em segundos podemos
atravessar o tempo e o espaço com nossos pensamentos.
Dark fala em triangulação, como se todo o casal
tivesse uma terceira pessoa inserida. Para a psicanálise, isso também é uma
verdade. Não necessariamente uma traição erótica, pode ser a mãe, o pai, um
irmão, um filho, um amigo, um trabalho. Existe uma força que ‘puxa’ o sujeito para
várias paixões e é preciso muita decisão para se vincular de fato ao objeto de
desejo. Mesmo porque a pessoa amada é uma figura esférica, nos traz alegrias e algumas
incompletudes, o que faz essa força ficar ainda mais forte causando uma
triangulação nos casais.
O terceiro ponto é a repetição. Na série eles
falam sobre uma repetição de 33 anos, para a psicanálise não seria exatamente
esta data. Freud fala em “compulsão à repetição”, uma repetição que se impõe sobre
aquilo que não foi elaborado. O que não foi simbolizado retorna no real.
Vivemos repetições, que às vezes seguem gerações, até desvendar os mistérios e
enigmas das leis do inconsciente.
O quarto ponto que se assemelha muito à
psicanálise lacaniana é que no último capítulo falam em topologia e utilizam um
nó topológico para representar presente, passado e futuro, o mesmo que Lacan utiliza
para representar os registros do inconsciente.
Um aspecto interessante é que parece que a
série não oferece ponto de identificação. Muitas pessoas podem ter gostado da
série, mas não parece ser uma série que puxe a identificação do espectador...
Sem identificação não tem amor. A identificação é o primeiro passo para o amor.
Como uma série que fala tanto a linguagem do inconsciente não inclui o amor?