Mais um belo filme sobre amizade na Netflix. Uma Beleza Fantástica (2016) é um drama
romântico britânico, escrito e dirigido por Simon About, onde podemos ver
excelentes interpretações e visualizar o quanto uma grande amizade pode fazer
uma diferença profunda em nossas vidas!
Podemos dizer que o filme faz um belo paralelo
entre cuidar de um jardim e cultivar as amizades. Jessica Findlay interpreta
Bela Brown, uma moça tímida, solitária e inibida que tem sintomas obsessivos.
Ela aluga uma casa e vai trabalhar na biblioteca. Faz tudo no horário contado,
usa sempre o mesmo estilo de roupa e faz rituais obsessivos para sair de casa.
Bela parece não ter ligação com nada. Parece
executar as tarefas por mera obrigação e sobrevivência. Mas sua vida toma outro
rumo quando o advogado imobiliário chega à sua casa e diz que para que ela
permaneça na casa, ela deve cuidar do jardim, está incluso no contrato de
locação. Ela tem o prazo de um mês para restaurar seu jardim que está em
péssimas condições. Bela fica desarvorada. Como conseguiria fazer aquela
proeza? Como seria possível cuidar de algo que ela não tinha a menor afinidade?
Começa então a amizade dela com seu vizinho
Alfie (Tom Wilkinson), excelente no papel de velho rabugento. Alfie, mesmo com
seu temperamento ranzinza, consegue demonstrar grande sensibilidade e extrair o
que havia de melhor em Bela. A parceria funciona maravilhosamente bem e ambos crescem
com a amizade. Como analista, podemos dizer que ambos estavam embotados
afetivamente, cada um, à sua maneira. Estavam sem conseguir investir energia
psíquica no mundo. A missão de ensinar sobre jardinagem e por outro lado, a de
aprender, fez a ligação entre dois seres que, aparentemente, não tinham nada em
comum. O endereçamento ao outro, a troca de ideias e de estórias fez com que os
dois despertassem para a vida.
O filme tem também muita ironia e carisma com
Vernon (Andrew Scott) e Billy (Jeremy Irvine), personagens que mostram que nas
pessoas ‘esquisitas’ existem seres maravilhosos.
O filme mostra, com muita emoção, o quanto os
sintomas são ‘aglomerados’ de inibições para chegar até o outro e fazer laço
social... Quanto mais os personagens tinham amigos, amores e projetos pessoais,
menos os sintomas apareciam... Bela chegou até a esquecer a porta aberta um dia,
uma distração inconcebível a uma obsessiva! Do sintoma ao sinthome (do sintoma
a projetos e realização de sonhos), via laço social... como diria Jacques
Lacan...
Fabiana Ratti, psicanalista