Onde mora o coração - Where
the heart is – é quase que uma recriação do clássico O Mágico de Oz. Onde mora o
coração (2000), drama Americano dirigido por Matt Williams e escrito por
Billie Letts tem a excelente interpretação de Natalie Portman e colegas de
elenco. Novalee Nation (Portman) começa como uma adolescente inconsequente e
sem o menor juízo (redundantemente) e termina dando a volta por cima com
bastante esforço, trabalho e amizades fieis. Assim como Dorothy, Novalee começa
usando um sapato vermelho e tem problemas com ele.
Novalee tem uma vida bastante miserável. Foi abandonada pela mãe aos 5
anos de idade, não teve muito estudo, morava em um trailer e saiu grávida com o
namorado que havia roubado um carro. Para onde eles iam? Quais os planos? As
perspectivas de trabalho? Nada disso existia... Como se não bastasse, Novalee
foi abandonada pelo namorado no estacionamento de um supermercado quando parou
para ir ao banheiro e comprar sapatos novos pois havia perdido os seus. Assim
como Dorothy, Novalee não sabia qual caminho pegar.
A situação é muito difícil e, a princípio, sem perspectivas. Mas,
Novalee, se refugiando nas noites que se seguiram no supermercado, começou a
fazer amizades no entorno. Assim como Dorothy, Novalee fez quatro amigos fieis.
De repente, saiu na TV, virou notícia por um dia: teve seu bebê no Wall
Mart... Assim como Dorothy, ganhou presentes e flores, foi recebida com
triunfo!
Natalee recebeu a possibilidade de trabalhar no supermercado, foi
amparada por uma amiga e soube agarrar a oportunidade. No começo, ainda agiu
como a adolescente sem responsabilidade, mas, cada vez mais foi deixando a
‘compulsão a repetição’ e passou a dirigir sua vida segundo seu desejo. Esse já
havia sido o abismo que sua mãe havia entrado, saindo em busca de homens que
não eram parceiros, apenas devastação em sua vida.
Assim, Novalee seguiu o caminho de sua escolha e não das ofertas de
satisfações pulsionais que a vida lhe oferecia. Novalee cuidou de sua filha,
foi fiel a seus amigos, trabalhou e construiu uma carreira seguindo o seu
desejo. Nas horas vagas, a personagem tirava fotos de eventos e casamentos,
chegando até a ganhar prêmio! Ou seja, a personagem tinha tudo para seguir os
passos de sua mãe, ou mesmo de pessoas à sua volta: ter vários filhos com
homens diferentes, ser alcóolatra, viver na miséria. Mas Novalee soube
construir, trabalhar e recebeu presentes da vida com isso.
Presentes e oportunidades que, como psicanalista, é possível perceber
que muitos recebem, mas poucos de fato aproveitam e fazem jus a essas
oportunidades.
Para esse caminho de construção de um lar, assim como Dorothy, Novalee
precisou de coragem, de cérebro e de coração, tudo ela conquistou com a parceria
de amigos fieis. No meio do filme temos até um tornado, semelhança mais do que
explicita com o maravilhoso Magico de Oz. Sendo o Mágico de Oz representado
pelo instrutor de fotografia... a volta ao lar se dá com a construções de
nossos projetos e sonhos!
Novalee se autorizou a crescer e fez escolhas que sustentaram seus
projetos (trabalho, maternidade, amizade, vida), independentemente das circunstâncias
iniciais. Somente um projeto ela teve dificuldade em se autorizar: o de ter um
relacionamento bacana com um homem inteligente e sensível. Ela ainda se via
como aquela menina franzina e abandonada (pela mãe e pelo namorado). Nem sempre
o aparelho psíquico acompanha o crescimento da pessoa, isso gera a baixa
auto-estima e o complexo de inferioridade, pontos tão danosos para a vida do
sujeito. Foi somente quando ela se deparou com a castração, com o pai de sua
filha amputado, que ela se deu conta de que a vida era curta e ela mesma quem
deveria se autorizar a realizar mais um de seus sonhos e, mais uma vez, Novalee
seguiu o caminho de seu coração.