Por: Fabiana Ratti, psicanalista
Já havia adorado Sonhos Tropicais quando havia sido lançado em 2001 e assisti no
cinema. Neste final de semana assisti de novo com minhas filhas. Ele é
espetacular. A direção de André Sturm é impecável, os atores
são ótimos e os temas abordados de uma riqueza ímpar!
O filme se passa na virada do século XIX para o
século XX, no Rio de Janeiro. São duas estórias paralelas. A primeira narra o
retorno de Oswaldo Cruz (Bruno Giordano) para o Brasil após ter passado três
anos estudando na França. A segunda é sobre Ester (Carolina Kasting), uma
polonesa que veio ao Brasil na promessa de se casar e na verdade foi comprada
para trabalhar em um bordel. O filme se baseia no romance homônimo de Moacyr
Scliar.
Foram muitos os tópicos que pude abordar com as
minhas filhas. A questão da prostituição, da violência doméstica, das doenças
sexualmente transmissíveis. Na mesma linha, pudemos ver os esgotos a céu aberto
no Rio de Janeiro, as pessoas morrendo de varíola e febre amarela, a falta de
higiene, a dificuldade de saneamento básico.
Agora, o mais incrível, triste, porém muito
atual, foi ver o Rio de Janeiro, naquela época, passando pelos mesmos problemas
que passamos hoje, mais de um século depois. O filme mostra Oswaldo Cruz,
primeiro médico sanitarista que nós tivemos, batalhando para fazer prevenção de
saúde e saneamento básico e o que ele encontra? Boicote político. Ele tenta
implementar a obrigatoriedade da vacina, e recebe uma revolta popular, a
conhecida “Revolta da Vacina”. Muito por falta de orientação e organização do
governo. Na frase dos atores podemos ouvir a frase célebre que hoje ouvimos em
nosso país: “Um mosquito destruindo uma nação!”
Naquela época, Varíola e Febre Amarela, hoje
H1N1 e mosquito da dengue. Naquela época, o que causava tudo isso eram os
esgotos e as sujeiras. Hoje, muitos esgotos continuam a céu aberto. Os cortiços
deram espaços a grande favelas. Os interesses políticos continuam predominando
sobre o saneamento básico e a atenção primária em saúde.
André Sturm continue no caminho, você é um excelente diretor.
Com assuntos tão sérios e polêmicos, você conseguiu deixar o filme
interessante, divertido e agradável de ser visto. Os cortes são feitos nos
momentos certos, o timing dos atores,
o cenário... Tudo favorece esse maravilhoso e atual filme. Embora, seria bem
bacana que um dia, ele deixasse de ser tão atual...