Para sempre Alice e A
Incrível história de Adalina
Para sempre Alice (2014), é um drama Americano estrelado por Julianne
Moore que merecidamente recebeu o Oscar e o Globo de Ouro por sua maravilhosa
atuação. Alice é uma professora Universitária reconhecidamente inteligente e
brilhante. Casada, com três filhos já adultos, está por volta de seus 50 anos. De
uma hora para outra, começa a ter perdas de memória. Um local, uma palavra, uma
situação. Com repentinos flashes sua memória se apaga.
A princípio, tenta esconder, disfarçar. Procura um
médico e o diagnóstico é fulminante. Alzheimer precoce geneticamente
transmitido. Toda a sua vida muda e a doença evolui vertiginosamente rápida.
Como psicanalista, o que mais me fez pensar foi o efeito de aprisionamento a um
corpo. Lacan discute bastante o quanto o corpo é uma junção do órgão
(biológico) + aparelho psíquico. O quanto um está sujeito ao outro e
vice-versa. Alice está aprisionada a seu corpo, a seus limites, a sua doença. Sua
vida ficou restrita. Toda a desenvoltura que tinha antes foi sendo perdida e um
corpo abandonado foi surgindo no lugar. De uma hora para outra ela estava bem velha,
tendo quase a mesma idade de antes.
Um outro filme que podemos observar o mesmo ponto mas
que é diametralmente o oposto é A
Incrível história de Adalina (2015). Esse, bem mais leve e divertido, um
romance fantasia, mas interessante da mesma forma, pois nos coloca uma situação
hipotética e surpreendente: “E se ficássemos jovens eternamente?”, “E se a
idade não passasse para nós?”.
Posso dizer que esse sonho é muito sonhado nos divãs
como uma vida paradisíaca. Um mundo idílico onde só existiria maravilhas. Beleza,
juventude, saúde, alegria. Porém, Blake Lively como Adalina quebra esse sonho e
nos aponta os possíveis problemas de uma pessoa que fica parada no tempo,
eternamente jovem, enquanto todos a sua volta envelhecem.
No meu entender, são dois filmes, duas situações bem
diferentes em que o sujeito fica aprisionado em seu corpo. Em nosso mundo atual
construímos a ideia de que se fôssemos eternamente jovens, fugiríamos das
dificuldades e agruras da vida. Num linguajar psicanalítico, fugiríamos da
castração, de tudo o que é ruim. Da doença, da velhice, da tristeza. Adalina
nos afirma que não. Que não há como fugir da castração.
Adalina, diferentemente de Alice, fica por muitos anos
deslumbrante. Sua filha segue o caminho normal da vida, e assim, com o tempo, parece
ser sua mãe. Adalina muda várias vezes de identidade, de cidade, de trabalho.
Não faz amigos, não namora. Assim como Alice, distancia-se da vida, para não
passar a ser um objeto de estudo para médicos e cientistas.
Desta maneira, o ponto que venho ressaltar destes dois
filmes é a importância do sujeito ficar mais tranquilo de que sim, estamos todos
aprisionados a nossos corpos. Existem limites sim. Não há como fugir da
castração. Não há como negar a idade.
Uma coisa é o sujeito utilizar muitos produtos de
beleza, fazer esporte, raciocinar a roupa que melhor esconde as perfeições. Ou
seja, acompanhar o tempo da melhor forma possível. Outra coisa é fazer todas as
operações plásticas para voltar a ter 17, ou usar roupa de adolescente, ou
ainda, ter comportamento de 17 sem acompanhar a vida incluindo a castração. Incluir
que em todas as fases da vida existe o lado bom e o lado não tão bom assim, e
deixar de pensar que, hipoteticamente existiria uma idade ideal, um tempo ideal,
um paraíso despido de infortúnios. E que a juventude e a beleza guardariam esse
tempo.
Para a psicanálise, existe um grande paradoxo. Do que
todos fogem é da castração. É dos limites e das imperfeições. Paradoxalmente, é
ver a castração, conhecer os limites e assumir o próprio corpo, com suas
maravilhas e imperfeições, é que faz o sujeito conseguir desfrutar de seu corpo
e de seu tempo. É linda a cena em que
Adalina descobre um fio branco em seu cabelo, ela fica feliz e nós espectadores
respiramos aliviados... o feitiço se quebrara. Adalina voltara a ser mortal. Somente
assim conseguiria realmente desfrutar de seu corpo e de sua vida!