Por: Fabiana Ratti, psicanalista
Ruby Sparks – A
namorada perfeita é uma produção americana de 2012 dos mesmos diretores de A pequena miss sunshine, Jonathan Dayton e Valerie Faris. É um filme bem mais
simples e pode passar por uma usual comédia romântica. Mas é bem interessante
do ponto de vista da psicanálise.
Calvin (Paul Dano) é um jovem
romancista que já teve alguns sucessos e, como todo sucesso do século XXI, não
foi pouco. Nessa era em que estamos, ou ninguém lê o livro, fica por meses nas
prateleiras, ou vira febre, comoção internacional com noites de autógrafos e
desmaio do público. Calvin era desses que virou notoriedade mas que no momento está
sem inspiração para uma ideia interessante. Outra questão de Calvin é que tem
uma vida afetiva um pouco parada. Parece ser bastante sensível e exigente, não
acompanhando a agilidade da vida sexual desse nosso século.
Então, imbuído de muita
concentração cria uma personagem nova, Ruby. O inusitado do filme é que ela
ganha vida e aparece em sua casa, age como se fosse sua namorada, conhece sua
rotina e as pessoas a seu redor. Por um tempo, Calvin pensa que está tendo um
surto, desconectado da realidade e vendo coisas, mas depois, percebe que Ruby é
bastante real, interage com as pessoas e participa ativamente de sua vida.
Fora as bizarrices, com cenas
e falas inusitadas, pois a situação é bem peculiar, o que tem de interessante
no filme é que Calvin, vendo que sua namorada é uma personagem criada por ele,
começa, através da escrita, a manipular suas atitudes, sua fala, seu temperamento.
Ruby se torna a namorada perfeita! Como analista, sinto que esse é um sonho de
quase todo ser humano. Imagine poder manipular a pessoa, mudar seu humor, fazer
com que ela goste de seus programas, respeite seu ritmo incondicionalmente!?! Imagine
poder unir em uma só pessoa todas as características boas, todas as qualidades
e não precisar dar a contrapartida? Não ter risco de perdê-la?
Ou seja, Calvin constrói um
ser que tende à plenitude. Um ser que corresponde a suas expectativas, que não
pede nada em troca e que está pronto para tudo a qualquer momento. Quantas
vezes não desejamos essa posição de uma pessoa!? Porém, o filme mostra o outro
lado da questão. Calvin começa a se sentir sozinho, começa a ver que tem ao
lado uma pessoa que não pensa por si, que não age e que não tem seus próprios
interesses, e quanto isso é chato!
Ter um relacionamento inclui
a ‘incompletude’. Inclui defeitos, temperamentos e ações não tão esperados,
inclui dificuldades e obstáculos que os dois ultrapassem juntos. O relacionamento
afetivo é uma via de dupla mão, e pode ser bem chato se não for assim... é isso
que o filme mostra com alegria e bom humor!