Por Fabiana Ratti, psicanalista

Uma vida melhor é um filme denso e muito sério. Demian Bichir (Carlos Riquelme) ator mexicano, que concorreu ao Oscar de melhor ator em 2012, está excelente e o filme acompanha o seu perfil. O filme narra a história de um imigrante que faz trabalho de jardinagem nos arredores de Los Angeles e tem um filho adolescente. Carlos passa por todas as agruras de uma vida moderna: a dificuldade de diálogo com seu filho que não vem estudando muito e se envolve com gangues, a luta por trabalho e o dinheiro contado dificultando dar um passo a mais para melhorar sua vida. O filme também retrata, com bastante inteligência, as questões de ética, a inclusão na lei, a consideração pelo outro, situação delicada pois, sendo ilegal no país, eles já partem de uma posição fora da lei, como incluir e ensinar leis a um filho? Como se aproximar, construir um diálogo e ainda discutir afeto? Alguns atos e poucas, porém, importantes palavras, fazem um diferencial para a construção de uma família e de novas relações sociais.
Por outro lado Um dia sem mexicanos é uma comédia bem leve. Cinematograficamente falando, podemos dizer que é bem mequetrefe! Baixo orçamento, provavelmente, um cotidiano básico da vida na Califórnia. Porém, é hilário e discute um tema bastante sério. Vale muito a ideia!

A segunda parte do filme é bem surrealista, começam sumir os mexicanos, forma como os americanos chamam, pejorativamente, todos os latino-americanos. Os americanos começam a ficar preocupados, inseguros e tensos. No dia seguinte, os mexicanos retornam como se nada tivesse acontecido e os americanos ficam extremamente felizes, pulam e beijam seus funcionários. Como se eles tivessem passado um frio na barriga: como ficaria nossa vida sem a empregada, o jardineiro, os trabalhadores rurais? Sem ninguém querer pular a fronteira que divide EUA e México? Uma cena hilária é quando um senhor, de cargo muito importante está entrando em sua sala e encontra os mexicanos pregando o quadro, na primeira parte do filme, ele os expulsa, briga e os xinga. Quando ele percebe que se não tem mais os mexicanos, quem terá de fazer a tarefa será ele, no dia seguinte, quando os mexicanos aparecem, o senhor os trata com delicadeza, oferece uma bebida e ainda diz: “Mi casa es su casa”! Um belo filme de homenagem a esses trabalhadores que merecem o reconhecimento por seus trabalhos.
Pensando nos dois filmes, podemos dizer que, segundo Freud, o ser humano é um bichinho que vai sendo lapidado pela cultura. As leis, as regras, o respeito pelo outro, a inclusão das diferenças é algo que requer muito esforço, intelecto e psíquico, para que assim seja possível tirar o foco do próprio Eu e incluir o outro. O primeiro filme tem uma cena excelente que descreve essa questão. Quando é possível dividir o pão, ou seja, abrir mão de uma satisfação em prol do outro, ok. Agora, quando temos um prato de comida que vai trazer ainda mais satisfação, vale até destruir o outro... Para Freud, o ser humano tem pulsão de vida e de morte amalgamadas e é a decisão, a escolha e a posição do sujeito atravessada pela cultura que direciona seus atos.
Em tempos de julgamento de mensalões nesse país em que estamos, podemos dizer que os políticos poderiam fazer mais esforços pelo cumprimento das leis possibilitando que a sociedade e os cidadãos possam se incluir e ter mais possibilidades, dentro das leis de cada país, para que também eles, possam exercitar o respeito, se incluírem nas regras e nas leis para o cumprimento de uma verdadeira cidadania e a busca de uma vida melhor. Vale a pena se inspirar nos filmes!